domingo, 19 de maio de 2013

Viajando de avião


* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

Conhecer o Rio de Janeiro era um antigo desejo que trazia comigo, sempre quis visitar a cidade cantada em verso e prosa pelos poetas, músicos e compositores. Descobri que o nosso maravilhoso Sesc tem um braço bem ali em Copacabana, a cem metros da megafamosa praia. Convidei minha irmã Rose e meu querido cunhado Junqueira para nos fazer companhia e de repente, aos 45 do segundo tempo, se juntaram a nós duas sobrinhas, Roberta e Rejane.
Antes das cinco da manhã do dia 10 de abril, estávamos fazendo chek-in para o voo das 5h30. Já tinha dado um toque para Junqueira que não levasse nada de metal, nem na bagagem de mão e muito menos no bolso, porque não passaria por aquela porta dedo-duro que não perdoa nada metálico. Como sei que ele tem o estopim mais que curto, fiquei por perto, passei minha bagagem naquela mesa rolante quando a moça falou: “O chapéu também.”
Mesmo sem entender, obedeci. L ogo depois olhei e lá vinha Junqueira rumo à famigerada porta, com seus 1,82 metros bem distribuídos nos seus cem quilos de peso, cabelos e vasto bigode branqueados pelo tempo, retratando ser sessentão. Na primeira tentativa o alarme apitou, Junqueira retornou e tirou algumas moedas do bolso. Resmungou baixinho: “Pô, não sou nenhum bandido e essa porta me fazendo passar o maior mico.”
Tentou passar outra vez e a porta, para sua irritação, novamente fez “piiii”, dedando o já nervoso Junqueira que balançou a cabeça meio que contrariado, torcendo seu bigodão. Querendo demonstrar que estava calmo, Junqueira tirou do bolso um chaveiro que tinha de tudo dependurado: chaves, canivete, abridor de cervejas, pé de coelho e até santinhos. E lá foi ele na terceira tentativa. Junqueira estava vermelho de tanta bronca, e olha que nessa altura do campeonato, uma razoável plateia se juntava ao redor esperando o desfecho final.
E não é que a caprichosa porta fez o maior escândalo? Piiiiii!!!! Aí o bicho pegou, via sair fumaça da cabeça do velho Juca, que estava uma fera, e antes que ele desse uma voadora em quem estivesse por perto, alguém da plateia gritou: “Tire o cinto”. E não é que estava ali o motivo da muvuca, uma fivela grossa do cinto? Ele o tirou e, segurando a calça com as mãos,  meio que ressabiado, olhando para a campainha da porta passou calmamente...Ufa!!! Para alegria geral da nação, não apitou, alivio geral, a galera até aplaudiu.
Já no avião ele me confessou: “Buenão, se eu tivesse uma calibre 12 na mão, desmanchava aquela maldita porta no tiro.” Lógico que ele estava exagerando.
O voo foi supertranquilo e uma hora depois o piloto nos avisava que já iríamos pousar. Da minha janela olhava aquela cidade maravilhosa. No peito, meu velho coração bateu descompassado, senti minh’alma agradecer-me por aquele momento tão lindo. A passar ao lado do Cristo Redentor a emoção foi maior, fiquei imaginando o que sentiu Tom Jobim, que tinha medo de voar e vivia dizendo: “O defeito é aqui em cima, mas a oficina é lá embaixo”.
Tom voltava para sua cidade depois de passar muito tempo em Nova Yorque, e quando avistou aquela lindeza compôs mais uma obra-prima, o Samba do Avião, que escrevo parte da letra abaixo.
 “Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudades, Rio seu mar praia sem fim, Rio você foi feito pra mim... Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara...”
Aterrissaamos no Aeroporto Santos Dumont, não sem antes sobrevoarmos tudo aquilo que apenas víamos pela televisão. O piloto tem que ser bamba, amigo, ele tira a maior “fina” da Ponte Rio Niterói, nos dando a impressão que passaria num de seus vãos e em seguida aterrissa numa pista que está sobre o mar, 0tanto a cabeceira quanto o seu final, se errar estamos literalmente dentro d’agua. Daí para o Sesc foi tudo beleza, rimos muito das trapalhadas do Junqueira. Mais tarde, em seu quarto, descobrimos que em sua mala ele trouxe de tudo: alicate, chave de fenda, pedaços de arame e até barbante. Daí nós o apelidamos carinhosamente de “Posto Ipiranga” .

* Cantor e compositor

Nenhum comentário:

Postar um comentário