sábado, 26 de maio de 2012

Antonio Carlos... você abusou, amigo!



* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

Paulo Lakimé é, junto com Tininho e Decinho, músicos de Antonio Carlos e Jocafi, e com eles viajam por todo nosso Brasil. Ele também tinha o Bar Villa Lobos, onde hoje é a Casa do Dedé. Certa noite, em seu bar, a famosa dupla fez um show e eu e Sócrates fomos vê-los. Depois do show, foi combinado um almoço para o outro dia, no apartamento de cobertura do Sócrates, tipo duas da tarde.
Digo, com toda a certeza, que a tarde e a noite foram inesquecíveis, pois Paulo Lakimé e Adelaide, sua esposa, lá pelas seis da tarde, tiveram que ir embora, pois tinham que abrir o bar. Só sei que esse almoço virou jantar, que virou cantoria até mais de meia-noite, quando fui levá-los juntamente com minha primeira-dama para a casa de Paulo, onde estavam hospedados.
Entre sambas, boleros e causos ali contados, ficou em minha memória uma música que Antonio Carlos estava compondo. Fiquei fascinado pela poesia da letra, escrita por ele, que falava da relação da rosa com o espinho. Foi quando o artista me disse: “Vou terminá-la e o Paulão vai fazer o arranjo, vai ficar show”.
Entre os causos que ouvi, este que vou contar aqui Jocafi também conta e dá boas risadas... Dizia ele que a palavra brega nasceu em Salvador, cidade em que moram, quando tinham lá seus 18 anos e como todo jovem daquela época, tinham o hábito de ir à zona descarregar suas energias... Hoje, a coisa evoluiu de tal forma que a tal zona foi extinta em todos os cantos do Brasil. A rua da zona em Salvador chamava-se Padre Manoel da Nóbrega e nascia numa avenida à beira-mar, invadindo a cidade, e com o tempo, falava ele, o salitre (Jocafi usa este termo, nós por aqui falamos maresia) ia corroendo a placa que ficava pregada no alto da primeira casa...
O salitre comeu a palavra Padre, depois comeu Manoel, depois comeu o da, ficando o Nóbrega, que resistiu pouco tempo. E do Nóbrega comeu o nó, ficando só o Brega, daí quando a rapaziada ia pra zona dizia: “Vamos lá pra Brega”. Nascia assim o termo brega, que por aqui usamos para rotular quem está fora de moda.
Antonio Carlos e Jocafi, juntos com Paulo Lakimé, Tinim e Decinho, após vários shows em cidades da região, voltaram a Ribeirão Preto para um show no dia 9 de maio, no Sesc. Eles chegaram no domingo e logo na segunda já armaram uma cantoria na casa do Renatinho, cunhado do Paulo e que ama a dupla. Eu fui um privilegiado convidado. Lá cheguei tipo sete da noite, tinha dito a minha primeira-dama que voltaria logo, mas ela é sabedora de que quando vou para uma parada dessas esqueço relógio, celular e me desligo do mundo. Então, resumindo, nem sei a que horas fui embora. Mas também, como ir embora se nãol sabia se haverioa outra noite como aquela?
Ali revi velhos amigos, fiz novas amizades como Dr.Tablas, pai de Vinicius que forma dupla com Marcus, e estão lançando um CD. Conheci Adalberto, apelidado de Bradock, um figuraça, e entre outros amigos estava Tarciso, que tirava um chope no ponto e uma picanha de dar água na boca. Enfim, aquele ambiente irresistível e como eu gosto!!
Perguntei a Antonio Carlos sobre aquela música da rosa e ele a cantou na hora. Ficou simplesmente linda, naquela noite Jocafi estava inspirado, cantou muito e contou causos e mais causos e a gente ali tomando conhecimento de toda a trajetória da dupla. Foi uma noite pra ficar na memória de quem pode vivê-la.
O Sesc estava lotado para o show da dupla e, por acaso, cheguei junto com os artistas. O público fazia um enorme coral a cada samba cantado. Do meu lado estavam Dr. Mozart Figueiredo e Roberto Degani, que comentava da satisfação dos compositores, vendo sua obra sendo cantada assim por inteiro.
No meio do show tive uma surpresa, quando Antonio Carlos passou a mão no violão e disse: “Dedico esta música ao meu amigo Bueno, que me viu fazê-la”. E cantou A rosa e o espinho. Antonio Carlos, querido amigo, parodiando seu grande sucesso. afirmo com certeza, nessa letra e nessa música, “você abusou”, meu velho.

* Cantor e compositor

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