quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Sócrates, o artista

Bueno *
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com
 
Está rolando na ESPN o documentário “Sócrates, o artista”, que será reprisado neste sábado, 7 de dezembro. Este filme começou a ser produzido no final do ano passado. Recebi aqui em Ribeirão Preto, a pedido de Gustavo, filho de Sócrates, e fui guia de uma equipe da ESPN Internacional, com sede em Madri, na Espanha. A produção já estava no Brasil havia duas semanas para captar material. Entre eles havia um apresentador de TV de nacionalidade argentina, e nos entendemos muito bem, ele até falava bem nossa língua e sabia tudo sobre o Brasil, principalmente sobre o Doutor. Do produtor, que era quem dava as cartas, eu entendia alguma coisa, era espanhol, seu nome é Martinez.
Marcamos nosso primeiro encontro no Pinguim do Centro, o tradicional, só que eles chegaram antes do combinado, até picamos um cartão lá e eles não economizaram elogios a nossa água que passarinho não bebe. Ficamos de voltar à noite, mas o bicho pegou, eles não queriam perder nada que pudesse enriquecer o material de que precisavam, estavam com muita pressa.
Fomos até a Universidade de São Paulo (USP), onde o Doutor cursou medicina. Observaram cada detalhe por onde nosso craque caminhou e depois foram visitar familiares do Magrão, o campo do Botafogo e, já no final de tarde, com a noite já nos abraçando, fomos ao Empório Brasília, bar que frequentamos por muito tempo, até porque nessa época Sócrates morava a poucos metros dali, na esquina de baixo, no Edifício Atlântico Sul. Era em seu apartamento que ele trabalhava escrevendo para revistas internacionais e nacionais, também estava empenhado em um livro sobre futebol. Dizia que primeiro o lançaria na Itália, depois no Brasil.
Magrão, ao terminar sua tarefa, me ligava marcando encontro sempre para as seis horas da tarde, no empório citado. Ali eu vi o Doutor escrever centenas de poesias, ali nós compusemos muitas músicas, ali fomos felizes, ali eu posso dizer com enorme saudade no coração que fui muito feliz, pois convivi com este ser humano que poucos tiveram a oportunidade de conhecer como eu conheci.
O bar, na parte de dentro, não tinha mesa por falta de espaço e elas eram espalhadas pela calçada. Márcio Palandri, o dono do bar, homenageou seu mais ilustre frequentador com uma dessas mesas, a do Dr. Sócrates, e até hoje, na parede ao lado, tem dependurado, entalhado em madeira, um distintivo do Corinthians e, mais abaixo, uma foto do Magrão com a camisa da Fiorentina. Márcio mal abre o bar e a mesa, como num passe de mágica, fica ocupada, são fãs de tudo que é lado que querem, por um instante, desfrutar um pouquinho daquele espaço que Sócrates frequentava. Era por ela que os espanhóis buscavam, fizemos demorada matéria ali.
Em seguida fomos para meu apartamento, minha sala é enorme e eles ali montaram um verdadeiro set de filmagens, com câmeras deslizando por sobre aqueles trilhos... O espanhol, quando viu o material que eu tirava de grandes envelopes onde guardo dezenas de escritas do Sócrates –  são poemas, letras de músicas nossas – , aguçou o olhar, principalmente por causa do tipo de papel utilizado: eram guardanapos, comandas de bar, marcadores de chope, aqueles papéis em que os maços de cigarros vêm embrulhados...
Martinez estava tão entusiasmado com tudo e começou a falar algo em espanhol que o argentino traduziu: disse que eu tinha uma preciosidade nas mãos,um verdadeiro tesouro cultural. Fizemos depois uma longa entrevista, passei para as mãos deles farto material sobre Sócrates e nossos 18 anos da mais sincera amizade.
Como acabamos muito tarde, o chope dançou. Na manhã seguinte os levei ao Cemitério Bom Pastor, onde repousa o corpo de Sócrates ao lado do de seu pai, Sr.Vieira. Ali coletaram o material que faltava para este documentário que está sendo exibido mundo afora com vistas à Copa do Mundo de 2014 e que tenho a honra de nele estar. O argentino me contou que eles produziram mais de 50 horas de gravação para tirar uma, fico imaginando o trabalho que teve o editor. Tudo por “Sócrates, o artista”.
 
* Cantor e compositor /

Casamento com homem é muito melhor

Maiferlaydson deu uma bicada no copo de chope e anunciou: "Pra mim chega! Agora vou casar é com homem!".
Todo mundo levou um susto. Aguinaldo, ao meu lado, quase engasgou com o pastel da Mercearia Santa Ignoranza, onde a gente se reúne pro happy hour.
"Como assim 'vai casar com homem'?!", perguntamos eu e Aguinaldo em coro.
Aquela informação era de fazer o Marco Feliciano correr pra se esconder no armário. Apesar do nome (a mãe adorava musicais), nosso amigo Maiferlaydson é heterossexual convicto. Não apenas convicto, mas também praticante. Passou o rodo na Vila Madalena inteira, adentrou o Alto de Pinheiros e já estava subindo para a Lapa quando a Leninha, sua esposa, perdeu a paciência. O casamento de 15 anos foi para o brejo e Leninha foi pra casa da mãe pedir colo, enquanto Maiferlaydson saiu dando colo para toda mulher que passava.
E agora ele decidira mudar de time? Casar com homem? Que novidade era aquela?
"Você trocou a esfiha pelo croquete?", perguntou o Aguinaldo no seu linguajar algo peculiar, herança da infância proleta na ZL.
"Qual é, mano?! Tá me tirando, Aguinaldo?!", esbravejou Maiferlaydson. "Não é nada disso não! Eu explico pra vocês!"
E então ele explicou. Foi mais ou menos assim: "Casar com homem é muito melhor. Por exemplo, eu quero tomar chope com os amigos. Mulher faz cara feia, reclama, emburra. Homem não! Vai beber junto! Se passa uma mulher gostosa e você faz um comentário qualquer, sua mulher vira uma fera. Homem não! Comenta junto! Quer dizer, tem muito mais vantagens...".
A Mercearia Santa Ignoranza parou para ouvir o discurso. Dois escritores interromperam o grande romance da sua geração só para escutar o Maiferlaydson. Quatorze roteiristas pararam de comentar "Breaking Bad" só para acompanhar o Maiferlaydson. Três jornalistas esqueceram completamente a crise do meio impresso só para compreender o Maiferlaydson.
E ele continuou. Explicou que as mulheres andam chatas demais. Tipo assim: quando a gente está dirigindo, elas ficam do lado pitacando: "Vira ali, não vira aqui, não ali, ih, passou!". Mas na hora do nheco-nheco, elas querem que a gente ache a porcaria do Ponto G sozinho! E sem GPS! Ah, faça-me o favor! Ponto G é igual ao continente perdido da Atlântica: dizem que existe, mas ninguém sabe onde é que fica.
E tem outra: quanto a gente goza rápido, elas reclamam. Mas quando são elas que demoram demais, elas também reclamam. Quer dizer, nós, infelizes, somos responsáveis por dois orgasmos: o nosso e o dela! O dela tem que ser rápido, o nosso deve ser lento. É, né, bebé? Mamar na... opa, vamos interromper o raciocínio que o jornal é de família.
Mas ainda tem mais, freguesa. Por exemplo: elas se juntam e saem todas serelepes para fazer Marcha das Vadias, não é? Agora experimenta passar por uma gostosa na rua e murmurar "úúú... que vadia!". Experimenta pra você ver só uma coisa. Você vai virar meme no Facebook. E o aplicativo Lulu ainda vai dizer que você tem dimensões mais ridículas que QI de BBB.
Quando o discurso do Maiferlaydson acabou, os dois escritores tinham abandonado a literatura já que, afinal, só estavam nessa pra pegar mulher. Os 14 roteiristas choravam mais emocionados do que no episódio final de "Breaking Bad". E os três jornalistas nem lembravam mais que o papel da imprensa era só sobreviver ao fim do papel.
Todos nós acabamos por concordar com o Maiferlaydson. Homem é muito melhor mesmo. O único problema é o design masculino, que é um desastre. Nem se compara às formas harmoniosas e esteticamente superiores da fêmea da espécie em geral e da Fernanda Lima em particular.
"Mas e daí? São lindas e gostosas sim, mas quem aguenta tanta mulher pé-no-saco?", concluiu Maiferlaydson, enfiando uma linguiça na boca.

Linguiça calabresa fatiada. Parem de pensar besteira, cazzo.