sábado, 23 de novembro de 2013

Sócrates, o taxista e o beduíno

Bueno *
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com
 
Queridos amigos leitores, tenho muitas histórias sobre Sócrates para botar no papel, mas acho esta genial e decidi reapresentá-la como uma forma de reviver a memória deste que foi e ainda é um ídolo mundial. No próximo dia 4, fará dois anos que ele “viajou”... A saudade que sinto do amigo, só eu sei...
“Por ser amigo de Sócrates, muitas pessoas me procuravam para contar histórias que aconteceram com elas e para que eu pudesse levar até ele. Na verdade, elas gostariam de se aproximar do Magrão, mas não o faziam por receio de não ser bem recebidas pelo Doutor da bola, sem imaginar a doçura de pessoa que ele era. Vou narrar aqui duas histórias desse ídolo mundial.
Digo isso porque, muitas vezes, estávamos juntos e o via atender ligações de toda parte do planeta: autoridades italianas, jogadores de seleções estrangeiras, cantores e músicos mundialmente conhecidos, pessoas superfamosas que até hoje idolatram esse ex-jogador de futebol que fez parte de uma geração de gênios. Várias vezes ouvi dele: ‘Buenão, eu joguei com Zico, Júnior, Leandro e Falcão, sabe lá o que é isso?’ E eu, na minha condição de mais um fã, sempre vejo passar na minha cabeça o filme daquela magnífica seleção.
Vou contar hoje dois casos envolvendo o nome Sócrates. Estava numa festa que acontece todo mês de maio na Fazenda Santa Estela, encontro nacional de sanfoneiros, e um rapaz de trinta e poucos anos foi chegando, pediu licença, sentou-se na minha mesa, disse que sempre me via em companhia do Magrão, era louco pela aproximação mas tinha receio. Queria contar uma história em que o Doutor da bola o salvou. Seu nome é Carlos, disse ser dentista em Franca, mas era de Ribeirão Preto e estava por aqui direto.
Agora, vejam vocês como Sócrates é ídolo mundial. Doutor Carlos foi fazer uma viagem a Toronto, no Canadá, e seu avião lá pousou de madrugada. Os passageiros foram esvaziando o aeroporto nos táxis e sobrou apenas um. Segundo nosso dentista, o taxista era um negro enorme e cismou de não levar nosso brasileiro, simplesmente se recusou. Como estava em terra estranha, doutor Carlos ficou na dele esperando pela volta de outro táxi. O tempo foi passando e nada de aparecer outro carro de aluguel. O taxista se aproximou e puxou papo em inglês, indagando de que país era nosso passageiro, que de imediato lhe respondeu na mesma língua: ‘Brasil!’
O taxista arregalou os olhos e disse: “Brasil???” E emendou outra pergunta... ‘Sócrates?’ Doutor Carlos sentiu firmeza e mandou de volta: ‘Sócrates é meu amigo’. Ele nem havia finalizado a frase quando viu o taxista apanhar suas malas e colocá-las no carro. Depois, conduziu-o a seu destino. No trajeto passou a fazer perguntas sobre nosso Doutor da bola. O brasileiro disse ser da mesma cidade do craque, que conhecia toda a família... O homem, maravilhado, passou a falar o quanto era fã do Magrão, tão fã que quando nasceu um de seus filhos colocou o nome inteirinho de Sócrates – e olha que o nome do Doutor é enorme. Imaginem o alivio do nosso brasileiro.
Outra história foi contada por uma senhora que esteve em situação idêntica ao brasileiro da primeira. Segundo ela, em uma excursão de professoras que fez para a África, um dos passeios era conhecer como viviam alguns beduínos no deserto. Ao chegar no local, o grupo de brasileiras se aproximou de uma daquelas barracas de lona rodeada de areia e o guia disse ao morador: ‘Essas pessoas são do Brasil!’ Novamente, a mesma pergunta de admiração: ‘Brasil??? Sócrates???’ E saiu caminhando e falando: ‘Sócrates, Sócrates, Sócrates...’ Em seguida, abriu um baú e tirou um pôster do Doutor com a camisa 8 da seleção brasileira, deixando todos boquiabertos. Ficaram surpresos ao testemunhar o quanto nosso craque era querido também naquela região do mundo.
Tenho muitas histórias do Doutor para contar, mas fica para outro dia. Ouvindo essas e outras, sinto um orgulho imenso de ter como amigo, afilhado e compadre o Doutor Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira Oliveira.”
 
* Cantor e compositor

sábado, 9 de novembro de 2013

Viola na parede

Bueno *
 
Escrevi esta crônica faz sete anos, mas como surgiram fatos novos, decidi reescrevê-la.
Nossa viola caipira tem um som apaixonante e dizem ela ter nascido em Portugal... Será verdade? Não sei, só sei que ela tem o som mais abrasileirado dos instrumentos que conheço e é abraçado a ela que um violeiro se põe a sonhar. Com suas mãos mágicas, produz sons que invadem o silêncio para ouvir seu lamento.
A viola tem várias afinações: em ré, em mi, cebolão, rio acima, rio abaixo. Segundo JC da Viola, tem mais de trinta afinações... mas que instrumento apaixonante !!!!!
Num fim de tarde, eu estava numa loja de instrumentos na estação rodoviária e um senhor, morador de Terra Roxa e muito simples, havia acabado de comprar uma viola novinha. Como o lojista não aceitou sua velha viola no negócio, ele decidiu vendê-la. Era linda, perguntei quanto queria pelo instrumento e ele disse: “Entrego por R$ 50”. Eu tava duro, daí liguei para o Sócrates, que estava no Bar Brenos com o amigo Pedro Sergio, e ambos dividiram a compra da viola. Eles a deixaram comigo e nela ate aprendi alguns ponteados.
Certa noite, Sócrates recebeu a visita de dois amigos violeiros de Cássia dos Coqueiros, amigos do tempo em que ele e o doutor Said Miguel, hoje médico conceituado em Batatais, faziam residência de medicina naquela cidade. Os amigos eram Oscar e Ferlin, cantavam modas de viola e contavam histórias que Magrão adorava. No calor da cantoria, o Doutor da bola deu a eles a viola, mas ela estava em minha casa e combinamos de voltarmos a Cássia para levar o tal instrumento.
Continuei ponteando a viola por aqui, o tempo passou e a levei numa cantoria na casa do amigo Wander Ligabó. Não sei como a esqueci lá, e ele, de repente, mudou-se para São Paulo. A prometida viola foi no rolo da mudança e só em Sampa é que ele foi perceber. Olhem só esta história.
O craque Raí fez aniversário e Wander foi convidado, na festa estava também o mineiro Gabriel Guedes, amigo de Rai e Sócrates e filho do cantor e compositor Beto Guedes. Gabriel é um jovem carismático e multi-instrumentista, toca tudo e deu show de piano e violão encantando a todos.
No dia seguinte, Wander resolveu fazer uma cantoria em sua casa e convidou o jovem músico, que de cara aceitou, até porque ficaria em São Paulo por uns dias. Já na festa, Gabriel voltou a tocar piano até que Wander disse: “Gabriel, eu tenho um instrumento que duvido que você toque, é uma viola.” O músico disse: “Então traga a bichinha, vamos ver.” E Wander buscou a nossa viola.
Gabriel afinou as cordas e arrasou tocando até música clássica. Ficou apaixonado pela viola e perguntou a Sócrates quem era o dono... Magrão, rápido no gatilho, respondeu: “A partir deste momento é sua!!!” Gabriel nem acreditava que ganhara de seu ídolo aquele instrumento, disse que ela teria lugar de rainha em sua casa. A cantoria continuou e nossa viola voou para Belo Horizonte, cidade onde reside o músico.
O tempo voou como um raio e Gabriel criou um projeto em sua cidade para resgatar o nome “Clube da Esquina”, criado por Lô Borges, seu irmão Marcio Borges, Beto Guedes e Milton Nascimento. Gabriel comprou a famosa esquina e ali ergueu um charmoso bar cujo nome é Clube da Esquina, ali a cultura da cidade aflora, virou ponto turístico, tudo ao redor esbanja música. Numa das paredes há vários instrumentos dependurados, e entre eles reina a nossa famosa viola, presenteada por Sócrates. Fico muito feliz por ter noticias da velha companheira e um louco desejo de conhecer o Bar Clube da Esquina...
 
* Cantor e compositor

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Maquiadora de defunto

Bueno *
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com
 
Existe cada profissão que vou te contar, mas em todas sempre há alguém para exercê-la. Molhando a palavra no Bar do Bim, quando meu parceiraço Tião do Violão, um cara muito antena­do, perguntou-me sobre Luiz Roberto, meu neto, se ele ia prestar o Enem. Tião queria saber se o garoto já havia escolhido uma profissão. Disse ao amigo sambista que ele queria fazer engenharia, mas parecia estar mudando de ideia, pois, até pouco tempo, dizia adorar essa tal de matemática, base da profissão e matéria que se tivesse puxado pro avô, tava ferrado, mas que na atual fase a matemática andou causando emba­raço em sua cuca e que dois mais dois não estava mais somando quatro (rsrsrsrsr).
“Buenão”, disse ele, “hoje as opções são das mais diversas, ele pode escolher a rodo, estão surgindo centenas de novas profissões, como essa tal de engenharia mecatrônica, que nem sei o que é, mas muito se comenta.” “Olha, Tião”, disse eu, “deixe o barco correr, ele só não pode perder o trem da história, o que ele escolher estarei por perto apoiando.”
Com o cotovelo no balcão ouvindo nosso papo estava Cibim, irmão mais novo do Bim. Cibim é professor técnico na Universidade de São Paulo (USP), reconhecido como o quarto no Brasil na área de patologia. Disposto a entrar no papo, arrastou uma cadeira e aterrissou de copo e garrafa em nossa mesa, e ali danou a falar da sua profissão. Olha só, a gente ali, mandando ver aquele torresmo sequinho, bolinho de bacalhau, daí misturamos tudo com o Cibim falando como abrir um corpo humano para estudos dos futuros médicos.
Lógico que o papo estava tão interessante que eu e Tião aproveitamos para matar curiosidades. De cara, perguntamos a ele quais os procedimentos quando um corpo chega até eles para estudos. Cibim, cheio de autoridade no assunto, disse que eles injetam um liquido conservante que tem o nome técnico de fixador, cuja base é o formol, na artéria femural do cadáver. O conservante percorre o corpo todo, depois o mergulham em um tanque do mesmo liquido, e ali o deixam por no mínimo um ano para depois passar a usá-lo.
Ele disse que tem corpo lá com mais de 30 anos e em perfeito estado. Cibim desfilou todo seu conhecimento sobre detalhes do corpo humano e eu fiquei de cara: onde cortar, como cortar, localização de veias e músculos, poxa, como ele sabe das coisas. Essa tremenda aula mereceu um brinde e mais tira-gosto e Cibim arrematou: “É, Buenão, nossa anatomia é a coisa mais linda, amigo...”
Por falar em defunto, continuei o papo e lembrei-me do Gersinho, que hoje trabalha na Secretaría Municipal de Planejamento. Certa vez, arrumou emprego numa funerária e entre suas funções estava a de arrumar o morto no caixão. Fiquei admirado, pois ele era muito medroso e agora ia mexer com morto!!! Um belo dia, chegou uma velhinha magrinha para ele dar um trato, ela tinha morrido de braços abertos, e como havia passado muito tempo, seus nervos estavam rígidos. Foi uma batalha cruzá-los sobre o peito.
Com muita luta, ele conseguiu amarrar as mãos da senhora, cruzando-as sobre seu corpo naquela famosa posição de morto. Gersinho virou-se para pegar algumas flores afim de enfeitá-la e, não sabe como, as mãos dela escapuliram dando-lhe um tremendo tapa nas costas... ele levou o maior susto de sua vida, saiu na maior correria sem olhar pra trás e nem voltou na funerária pra receber o salário. Gersinho é gente fina, é meu afilhado e grande músico.
Outro dia vi na TV uma matéria sobre profissões que pouca gente sabe que existem, uma delas é a de maquiadora de defunto... A moça se dizia superfeliz, pois faz a alegria das famílias num momento tão difícil. Arrumar homem é simples, disse ela, mas mulher requer mais técnica, ela arruma os cabelos, faz as sobrancelhas, passa base e baton, deixando-as tão bonitas que até parece que estão indo para uma grande festa (rsrsrsr). E olha que o cachê vale a pena, arrematou
Histórias... Temos muitas...
 
* Cantor e compositor

A HISTÓRIA DA FOTO MAIS FAMOSA DOS BEATLES

HÁ 44 ANOS, OS BEATLES TIRARAM A SUA FOTO MAIS FAMOSA, CAPA DO ÁLBUM "ABBEY ROAD".
TODA A AÇÃO FOI PLANEJADA PELO PAUL, CONFORME DESCRIÇÃO ABAIXO:
  
Era 8 de agosto de 1969 quando os Beatles se reuniram para o que viria a ser um dos seus últimos ensaios fotográficos. Não o último de todos, mas o último a ser usado em um álbum.
Nessa época, o Paul já decidia as coisas, mas nada era muito fácil. Reunir todos os membros da banda era difícil. Sair, agendar horários, nada disso acontecia sem uma boa dose de desgaste. Ali, talvez, o único Beatle que ainda queria ser um Beatle era o Ringo.
Mas o Ringo não conta.
Por isso, foi do Paul a ideia e iniciativa de fotografar naquela exata faixa de pedestres.
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Rascunho original do Paul para a famosa foto
O encarregado da missão foi um fotógrafo escocês amigo do John e da Yoko, chamado Iain Macmillan.
Antes de começar, ele tirou uma foto da rua vazia.
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Linda McCartney também esteve lá e tirou algumas fotos dos preparativos, enquanto o quarteto aguardava o ensaio começar.
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Foram tiradas seis fotos oficiais, para entrarem no álbum.
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Tentativa 02
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Tentativa 03
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Tentativa 04
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Tentativa 06
A escolhida, todos sabemos qual foi. A única na qual a formação estava perfeita, tudo alinhado, como deveria ser, como era habitual dos Beatles. Esmero nos últimos detalhes.
Paul decidiu pela quinta tentativa.
Abbey Road Cover
A quinta tentativa foi para o álbum
A história fez sua parte depois desse evento. Ninguém imaginava que os Beatles chegariam ao fim alguns dias depois. Nem o fã mais pessimista, nem mesmo John Lennon – que cuspiu seu desejo de sair da banda em uma reunião sobre as ambições de George de se tornar um compositor com mais espaço.
De lá pra cá, todos os detalhes imagináveis já foram destrinchados. Nem mesmo o velhinho parado lá no fundo, passando como quem não quer nada conseguiu escapar. Até mesmo ele já foi encontrado, entrevistado e teve seus minutos de fama, só por estar ali.
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A placa do Fusca, de número LMW 281F, foi roubada repetidamente, até o carro entrar em leilão em 1986 e ser vendido por £2.530. Atualmente ele está no museu da Volkswagen na Alemanha.
Olha ele aí
Olha ele aí
Hoje, atravessar aquela faixa de pedestres é um evento, tornou-se atração definitiva para turistas do mundo inteiro.
Ninguém quer passar por ali e não repetir a icônica travessia.